05 abril 2007

Orkut Buyukkokten

ORKUT


Ele tem 32 anos, mas parece ter 18. Orkut Buyukkokten, de origem turca, é o responsável pelo maior sucesso da internet no Brasil, a ferramenta homônima que criou em poucos meses, quando ainda era só mais um engenheiro no Google, em 2001. Em 2003, a novidade chegou ao Brasil e "pegou" de tal forma que hoje somos 56% dos 43 milhões de usuários que a ferramenta tem no mundo.


Orkut — o homem, não o site — também cresceu em prestígio e hoje é gerente de produtos no Google. Ele ainda trabalha em parte com sua criação, dando consultoria, mas também desenvolve outros projetos, que não pode revelar (ainda). Como os executivos bem-sucedidos, viaja pelo mundo dando palestras sobre redes sociais na internet (conhecidas como ferramentas de networking) e se reúne com grupos de trabalho para ver como melhorar a experiência dos usuários. É o que ele fez em visita ao Brasil.


Vim para o Brasil por duas razões. Queria encontrar usuários e grupos de trabalho para ver como podemos melhorar suas experiências dentro do Orkut; e visitar universidades e dar palestras sobre networking social e Orkut, também falando sobre a cultura criativa do Google. Também é um país que sempre quis visitar. Esta é uma chance de aprender mais sobre as pessoas e a cultura brasileira.


Lançamos o Orkut no Brasil há quatro anos, e três meses depois do lançamento verificamos este crescimento exponencial aqui. As perguntas que mais me fazem hoje em dia são por que a ferramenta é tão popular aqui e se meus pais me batizaram por causa do Orkut (risos). Acho que o sucesso é uma combinação de fatores. Primeiro, a internet é uma tendência cultural no Brasil — os brasileiros a usam muito, em especial suas ferramentas de interação social. Além disso, a interface do Orkut é simples e fácil de usar. Mesmo quando ele ainda era só em em inglês (e português foi a primeira língua para o qual o traduzimos), muitos brasileiros já usavam. Além disso, há uma parte demográfica no site, onde mostramos as porcentagens de nacionalidades no Orkut. Isso gerou uma grande competição, e os brasileiros queriam ser os primeiros. Quando isso aconteceu, houve celebrações no Rio e em São Paulo. Finalmente, a própria idéia do networking, da rede de relacionamentos, fez a coisa disparar. Muita gente influenciou os amigos e fez questão de que todos estivessem no Orkut. Daí o crescimento avassalador.


Acho que há potencial para o Orkut crescer também nos Estados Unidos (onde só tem 18% dos usuários). Essas coisas mudam. Por exemplo, antes, nos EUA, o Friendster era o mais popular, mas agora o MySpace tomou seu lugar. Por isso acredito que temos chance de crescer, sim.

Ainda trabalho no Orkut, usando meus 20% de tempo, fazendo consultoria. [No Google, 70% do tempo dos funcionários é destinado aos projetos da empresa, 20% a projetos pessoais que possam se ligar ao Google e 10% a qualquer projeto de cunho pessoal]. Criei o Orkut nesses 20% livres, em alguns meses. Isso não quer dizer que você pare uma determinada hora do dia para fazer aquele projeto. Você pode trabalhar direto nas coisas do Google por um ano inteiro e depois tirar alguns meses só para fazer o seu projeto. O Orkut nasceu assim. Pedi a meu chefe alguns meses para me deter neste projeto.


Venho trabalhando em networking social há seis anos. A primeira rede foi para estudantes da Universidade de Stanford. No Google, eu quis criar uma bem mais ampla, onde gente de todos os lugares pudesse se logar e se comunicar, interagir. Tenho grande paixão pela tecnologia, e grande paixão pelas pessoas, por meus amigos. Uma rede de relacionamentos é um grande caminho para juntar tudo isso.


Minha tese de doutorado foi sobre projetos de navegação web em handhelds, PDAs e celulares. A idéia era como melhorar a navegação pela internet em telas pequenas e recursos limitados de interface. Sempre fui muito interessado na experiência do usuário com as interfaces, e isso refletiu no Orkut, onde busquei uma interface o mais simples possível. Se vamos ter um Orkut móvel? Não posso comentar os projetos em que estou trabalhando agora. (Mas já há a possibilidade de enviar e receber scraps por via móvel).


Acho que seria interessante ver uma conexão maior com outros serviços do Google, como o Gmail, por exemplo, ou com os web-álbuns de fotos do Picasa. Seria uma experiência interessante para os usuários que adoram compartilhar fotografias. O Blogger já tem uma estrutura um pouco diferente, em que se conversa pelos comentários. No Orkut isso é mais direto, com os scraps.


É possível ganhar dinheiro com redes de networking. O mais importante, nesse caso, é lucrar com o serviço de modo que isso beneficie o usuário. No próprio Google, os anúncios servem para ganhar dinheiro, mas esses anúncios também prestam serviços ao usuário (e dão uma força aos editores de sites, de qualquer tamanho). Também deve ser assim no caso das redes sociais.


Sobre isso [questões de segurança, spam, comunidades controversas etc], garanto que estamos dando 100% para resolver estes problemas, através de melhores práticas. Estamos com uma campanha chamada "Keep Orkut Beautiful" (Mantenha o Orkut Bonito), e queremos ter certeza de que todo o conteúdo do site seja limpo, correto e saudável. Nossos engenheiros trabalham em ferramentas de segurança que previnam o surgimento de perfis falsos e comunidades desse tipo, e também estamos trabalhando com a polícia e a Justiça em casos de perfis ou conteúdos suspeitos que devam ser removidos. Eles podem nos contatar diretamente nesses casos. Nossa equipe de suporte também fica atenta e vê todos os casos quando usuários reportam problemas com perfis, conteúdo ou comunidades. (Segundo Carlos Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google no Brasil, da primeira vez que o governo brasileiro os contatou, o suporte em português era muito limitado, o que foi corrigido, com a contratação de uma equipe maior. Ele diz que hoje a ferramenta está em dia em relação as respostas a informes de problemas.) Mas é preciso lembrar que a internet é como a vida lá fora. As pessoas são as mesmas, boas ou más, dentro e fora do ciberespaço, e não só em ferramentas de rede social.


Também sou músico. Toquei teclados no tempo do ginásio e também na universidade. Tenho um teclado em casa, que toco de tempos em tempos, mas não há nenhum projeto tecnológico ligado a ele. Não sobra tempo. Tive contato com vários brasileiros que trabalham no Google e também em outros lugares, como no Canadá. (Segundo Manu Rekhi, atual responsável pelo Orkut no mundo, eles tiveram bons "professores" de redes sociais no Brasil que os ajudaram a montar grupos de discussão e, assim, a adaptar melhor o Orkut à realidade brasileira. É um processo que já tem alguns anos).


No passado, muita gente apenas assistia à televisão. Depois, veio a TV por assinatura, mais interativa. Hoje, as pessoas assistem a filmes e séries no computador. Acho que veremos a interação aumentar do mesmo modo no caso das redes de relacionamento. À medida que as pessoas se tornarem mais "móveis", vão usar seus celulares para acessar seus perfis de networking. Acho que isto é uma grande tendência.


Os projetos feitos na faixa de 20% do tempo podem ser individuais ou não. No caso do Orkut, fiz sozinho. Mas se você percebe que um colega está trabalhando em algo muito legal, pode se juntar a ele. Também pode se desafiar e experimentar áreas em que você não é tão especializado. Por exemplo, se quer ver como se sai trabalhando num produto móvel. O projeto "dos 20%" também não precisa ser um produto novo. Pode ser uma função nova para algo já existente. Esse esquema é uma forma de nos tirar da rotina, de nos fazer aprender coisas novas e estimular a criatividade. Um desses projetos — na verdade um da faixa dos 10% do tempo — foi fazer a rede wireless de Mountain View (Califórnia) funcionar dentro do ônibus dos funcionários do Google. E essas regras valem para o Google no mundo todo.

Notícias do G1

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